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Memórias Sensoriais Afetiva – Técnica dietética 2022/02

  Este post foi escrito por: Giane Sprada
  Publicado em 2 de agosto de 2022 e está arquivada em Alimentação e Cultura.

No dia 06 de maio de 2022, foram finalizados os 4 últimos  Seminários Culturais da turma na disciplina de Técnica Dietética I  do 5º período do curso de nutrição da UFPR. Dessa vez, as receitas preparadas foram todas doces e as mesas foram decoradas com artigos que representavam a cultura de cada receita afetiva escolhida. Novamente, as apresentações remeteram a reflexões sobre o papel da nutrição na promoção e manutenção da saúde social e emocional, dando ênfase, ainda, na importância do cozinhar para perpetuação das tradições entre as gerações.

Sagu de leite

O Sagu de Leite foi uma receita herdada da bisavó de uma das integrantes do grupo 1, que morava no interior do Paraná, a estudante conta que apesar de não ter conhecido a bisa, era agraciada pela receita preparada pela avó todos os domingos durante sua infância e adolescência. O sagu são bolinhas de fécula de mandioca que tem origem indígena – povo que descobriu essa iguaria. De acordo com a lenda, um cacique ao enterrar sua mãe falecida observou cada dia o nascimento e crescimento de uma planta sobre seu túmulo, intrigado com a beleza da planta, retirou a sua raiz e cozinhou para comer. O cacique gostou muito do sabor e batizou a de mãe-oca o que com o tempo foi adaptado para mandioca, desde então a raiz faz parte da cultura alimentar das tribos indígenas. Posteriormente com a colonização portuguesa no Brasil, a sobremesa de sagu foi acrescida do vinho tinto, por eles preparado, e esta versão tornou-se a mais conhecida e disseminada, sendo muito popular no Rio Grande do Sul – estado que apresenta grande quantidade de vinícolas.

Estrogonofe de Nozes

O Estrogonofe de Nozes foi o preparo escolhido pelo segundo grupo, receita da família de uma das integrantes, a sobremesa participa de todos os natais da família desde que a avó aprendeu, 30 anos atrás. Atualmente é preparado em coletivo, todos da família auxiliam com alguma etapa da receita, entretanto inicialmente era feito somente pelas mãos habilidosas da avó para agradar as crianças. Devido a esses aspectos, a receita representa para o estudante afeto e tem “gosto de natal”. O estrogonofe tradicional foi criado na Rússia, ao chegar aos Estados Unidos o preparo foi modificado: o ketchup tornou-se o substituto do molho de tomate. Ao decorrer dos anos, o prato recebeu diversos modos de preparo, sendo reproduzido hoje tanto na versão salgada, quanto doce – o que é o caso da receita da família apresentada.


Namura

O terceiro grupo escolheu um bolo árabe chamado Namura, a iguaria leva água de rosas (maward) no preparo, garantindo a ele um sabor único. Tradicionalmente um bolo pouco espesso e com textura mais rija, devido o uso da semolina dura, ele chegou à família de uma das integrantes da equipe através de sua avó, a qual apesar de ter nascido na Armênia, viveu boa parte da sua vida na Síria onde se apaixonou pela receita e se responsabiliza pela sua perpetuação para as gerações seguintes. A sobremesa é preparada pela família nos finais de semana, em conjunto com outros pratos árabes que fazem parte da rotina alimentar deles. Na família da estudante, a receita foi acrescida do fermento químico e se utilizou a semolina brasileira, garantindo ao Namura uma textura mais fofa e cor mais clara.

Bolo de mandioca

O bolo de mandioca é uma receita que foi passada pela avó de uma das integrantes do quarto grupo, sua família é manauara (originária do estado de Manaus) e apesar da  estudante não ter tido a oportunidade de conhecer a avó, que faleceu antes do seu nascimento, ela conta que a receita sempre foi feita nos cafés da tarde e durante confraternização dos seus familiares, de maneira que pode se conectar com a avó de certa forma. Como mencionado antes, a mandioca, também conhecida como aipim, é uma raiz participante da cultura alimentar indígena, com ela diversas receitas foram criadas, assim como este bolo. A cultura portuguesa, que foi disseminada no país durante a colonização, também realizou algumas mudanças e adições como da gordura e açúcar nessa sobremesa, na família da estudante o açúcar foi substituído pelo leite condensado e a receita ganhou uma característica mais adocicada que combina bem com o sabor forte e característico do aipim.

Os ingredientes principais das receitas costumam ser utilizados obrigatoriamente independente de quanto tempo se passou ou quão longe as mesmas chegaram, entretanto, toda família dá a elas um toque especial. Na cozinha os avós e pais encontram um espaço para compartilhar seus conhecimentos, contam histórias de família e confiam aos descendentes os tais “segredos culinários” dos pratos que são recorrentemente produzidos e carregados de significados. Os nutricionistas recomendam seus pacientes a irem para cozinha quando esses precisam criar hábitos de vida mais saudáveis, isso porque cozinhar é um ato importantíssimo, que nos leva a conectarmos com a comida e seus símbolos, e assim, naturalmente encaminha-nos a uma alimentação mais saudável e equilibrada.

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CULTURA ALIMENTAR E SAÚDE